
O Resgate de Uma Identidade Forjada em Duas Pátrias
Você sabia que o DNA cultural e econômico do sudeste da Bahia guarda uma profunda e emocionante conexão com o distante Oriente Médio? Esta é a poderosa premissa desvendada por Wilson Midlej, jornalista, escritor e guardião de memórias, em seu mais recente e exaustivo trabalho: “A saga dos sírios e libaneses no sudeste da Bahia”. A obra não se limita a um registro histórico; ela estabelece um elo vital entre o passado e o presente, oferecendo uma compreensão rica de como a Imigração Sírio-Libanesa na Bahia redefiniu a identidade regional e impulsionou a economia local no alvorecer do século XX.
A chegada desses imigrantes, fugindo de dificuldades em seus países de origem — Líbano e Síria —, não representou apenas uma mudança demográfica, mas injetou um vigor comercial e uma tradição familiar que se enraizaram profundamente nos sertões, rios e pequenas cidades baianas. Midlej, com sua bagagem de repórter e editor, uniu o rigor jornalístico à profundidade literária para mapear as trajetórias de famílias influentes, como Hagge, Maron, Salomão, Thiara e a sua própria, Midlej. Em essência, este livro é o esforço de um cronista que transforma vidas em palavras, preservando uma parte fundamental, e frequentemente negligenciada, da história baiana.
Mas qual foi o real impacto dessa Imigração Sírio-Libanesa na Bahia? Enquanto a história oficial muitas vezes destaca os ciclos do cacau e do café, é o trabalho incansável desses novos baianos que sustenta grande parte da narrativa de prosperidade e adaptação. Eles trouxeram o espírito do maktub (destino, na cultura árabe) e a resiliência do comerciante que viaja, transformando a microrregião do sudeste baiano em um polo de comércio vibrante. O autor nos convida a mergulhar na jornada de pesquisa, que consumiu anos, e entender “como” essas vidas se entrelaçaram com a terra, forjando vitórias, superando perdas e mantendo vivas as tradições locais. Ao final deste artigo extenso e detalhado, você dominará o contexto, o método e as implicações futuras desta saga que ainda ecoa nos sobrenomes e no sucesso econômico da região.
A Chegada ao Paraíso Tropical: O Impulso Migratório e a Bahia
A Imigração Sírio-Libanesa na Bahia insere-se num fluxo global que marcou o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX. O que motivou milhares de pessoas a deixarem suas casas no Império Otomano, que abrangia a Síria e o Líbano? Principalmente, a perseguição política, o alistamento militar obrigatório e, sobretudo, a busca por oportunidades econômicas inexistentes em suas terras de origem. O Brasil, com sua vasta extensão territorial e sua demanda por mão de obra e, mais criticamente, por agentes de comércio, tornou-se um destino promissor. A Bahia, com seu porto de Salvador e a efervescência das economias de exportação de cacau e café, funcionava como um ímã.
A maioria desses imigrantes, diferentemente de outros grupos que se fixaram em lavouras, possuía uma forte vocação para o comércio. Eles se tornaram os famosos “turcos” (apelido equivocado, já que vinham do Império Turco-Otomano, mas não eram turcos), que percorriam os sertões e as vilas incipientes, transformando o modo de vida local. Começaram como mascates, carregando suas mercadorias em lombo de burro ou a pé, criando rotas comerciais onde antes só havia isolamento. Eles estabeleceram os primeiros armazéns, as primeiras lojas de tecido e as sapatarias, injetando liquidez e variedade de produtos nas economias locais. A migração não foi um evento isolado, mas uma onda persistente que ajudou a cimentar o tecido social e econômico de Jequié, Itabuna, Ilhéus e outros municípios menores da microrregião.
O Quê, Por Quê e Como da Migração
A técnica de aprofundamento exige que entendamos a dinâmica: O Quê (O fluxo migratório sírio-libanês), Por Quê (Busca por paz e prosperidade econômica; fuga de conflitos), Como (Iniciação como mascates, estabelecimento de comércio e assimilação gradual) e E Daí (Formação de uma nova classe comercial no interior da Bahia e diversificação econômica regional). As famílias Midlej, Hagge, Maron, Salomão e Thiara são exemplos vivos desse “Como”. Eles não apenas sobreviveram; eles prosperaram. O livro de Wilson Midlej documenta a transição de mascates a comerciantes fixos, e destes a grandes empresários e políticos locais, um ciclo completo de integração e ascensão que explica muito do que o sudeste baiano representa hoje.
O Método Midlej: Jornalismo, Memória e a Luta Contra o Esquecimento
Wilson Midlej utilizou o seu vasto know-how de jornalista, que data de 1969, para aplicar um rigor técnico incomum no resgate dessas histórias familiares. O processo de pesquisa, que começou em 2019, foi descrito pelo próprio autor como “Penoso”. Você não pode simplesmente resgatar memórias de um século atrás sem enfrentar barreiras significativas. A principal dificuldade, relata Midlej, foi a passagem do tempo: as famílias já atingiam a terceira ou quarta geração, e os imigrantes diretos ou seus descendentes de primeiro grau já haviam falecido ou se encontravam em “idades provectas”, dificultando a recordação precisa de datas, nomes e fatos.
Para superar o desafio do esquecimento e da imprecisão oral, o autor empregou uma metodologia que mesclou fontes primárias e secundárias, garantindo o equilíbrio entre o “rigor acadêmico e a narrativa agradável”. Ele cruzou relatos orais das gerações mais novas com a análise minuciosa de fotos antigas e as memórias de contemporâneos, confrontando tudo com documentos oficiais. Um recurso documental crucial, segundo o autor, foram os registros cartoriais, conhecidos como “modelo 19”. Este documento de controle de estrangeiros serviu como âncora para fixar datas e locais, transformando a fluidez da memória em fatos concretos e documentados.
A Origem Pessoal Como Gatilho Narrativo
A dedicação de Midlej a este tema transcende o interesse acadêmico ou jornalístico, mergulhando na sua própria história. Ele explica que a obra é resultado de suas origens, citando a ascendência libanesa do avô materno (natural de Kaituly) e a egípcia da avó (nascida em Alexandria). As “memórias domésticas” — os falares, os sabores da culinária, os encontros familiares — foram o “gatilho para a investigação”. Esta conexão pessoal injeta na obra o “afeto pessoal” que, junto ao rigor jornalístico, confere à Saga dos Sírios e Libaneses a alma necessária para ressoar com o leitor. É uma obra que prova que a melhor história é aquela que nos toca de perto, utilizando a Imigração Sírio-Libanesa na Bahia como um espelho de identidade.
O Poder do Comércio: A Inserção Sírio-Libanesa na Economia do Cacau
Embora a Imigração Sírio-Libanesa na Bahia tenha raízes culturais e familiares, seu maior legado quantificável reside na esfera econômica. A microrregião do sudeste baiano prosperava com a cultura do cacau e, em menor escala, do café. Contudo, a produção agrícola em si dependia de uma estrutura comercial sólida para escoar os produtos e, principalmente, para fornecer crédito e bens de consumo às fazendas e vilas. É aqui que os sírios e libaneses encontraram seu nicho de ouro. Eles estabeleceram uma rede de intermediação comercial extremamente eficiente.
A mentalidade empreendedora destes imigrantes contrastava com a estrutura agrária, muitas vezes feudal e mais lenta, dos grandes proprietários de terras. Enquanto os coronéis do cacau focavam na produção, os sírio-libaneses focavam na circulação de capital e mercadorias. Começaram vendendo a crédito e, com o tempo, acumularam capital suficiente para investir em imóveis e grandes estabelecimentos comerciais nas cidades em crescimento, como Jequié e Itabuna. Eles se tornaram os elos de ligação entre o mercado consumidor rural e os grandes centros urbanos e portos, dominando o comércio atacadista e varejista.
Essa ascensão econômica não ocorreu sem atritos, mas representou um motor de modernização. A introdução de novas técnicas de gestão comercial, a ênfase na educação dos filhos (o autor Wilson Midlej, por exemplo, é bacharel em Direito formado em Jequié ) e o forte senso comunitário permitiram que o capital ficasse na região e fosse reinvestido. O estudo de Midlej, ao resgatar as histórias de famílias como Hagge, Maron e Salomão, ilumina como essa classe comercial, formada por imigrantes e seus descendentes, tornou-se a espinha dorsal da economia baiana não-agrária, financiando indiretamente a expansão das culturas de cash crop e diversificando a base econômica para além da monocultura.
Herança Cultural e Identidade Regional: Mais que Comércio
A contribuição da Imigração Sírio-Libanesa na Bahia vai muito além dos números do comércio. Ela se manifesta de forma sutil, mas profunda, na cultura e na identidade regional. Essa perspectiva das múltiplas faces mostra a face do consumidor, do especialista e do cidadão. Para o consumidor baiano, a herança se revela no paladar, com a incorporação de pratos árabes (como quibes e esfihas) que se tornaram onipresentes, e na língua, com expressões incorporadas ao vocabulário local. Para o especialista cultural, a contribuição reside na resiliência e na preservação da memória.
A força das tradições familiares, uma marca da cultura do Oriente Médio, desempenhou um papel crucial na estabilidade e sucesso dessas famílias. O livro de Midlej demonstra “como” os imigrantes mantiveram vivas suas tradições locais, mas também souberam se adaptar e absorver a cultura baiana. Esta fusão cultural — o baiano com sotaque árabe — criou uma identidade única na microrregião. A sessão de autógrafos do livro, que reuniu jornalistas, historiadores e a própria comunidade sírio-libanesa, demonstra que este legado é vivido ativamente e busca agora o reconhecimento histórico formal. O livro não é apenas um registro; ele é um ponto de encontro e uma celebração da identidade plural da Bahia.
O Desafio da História Oral: Superando as Lacunas do Passado
O aprofundamento na dificuldade da pesquisa de Midlej lança luz sobre os desafios da historiografia moderna, especialmente quando se trata de comunidades de imigrantes de gerações mais avançadas. Midlej explica que o processo foi “penoso” porque a terceira e quarta gerações, que são as atuais, naturalmente perderam a conexão direta com os fatos originais da imigração, e os descendentes de primeiro grau, os que realmente testemunharam a saga, já não podiam contar suas histórias. Isso sublinha uma verdade crucial: a memória é efêmera e o tempo é o maior inimigo da história.
A superação deste desafio exigiu uma verdadeira investigação. O autor não esperou que a história viesse a ele; ele foi em busca dela, atuando como um “garimpeiro de histórias”. Ele precisou tecer uma tapeçaria complexa, cruzando o subjetivo (relatos orais e fotografias) com o objetivo (documentos oficiais como o modelo 19 ). O “modelo 19” não é apenas um registro burocrático; ele é um portal para datas e locais, que ajudou a ancorar a narrativa. Esta dificuldade revela, ainda, a urgência de se documentar as histórias de imigração e identidade regional, antes que as “lembranças de fatos, nomes, datas…” desapareçam para sempre. A obra, neste sentido, é um triunfo metodológico.
A publicação de “A saga dos sírios e libaneses no sudeste da Bahia” gera implicações profundas em três esferas distintas: a acadêmica, a social e a cultural.
No campo social, o livro serve como um espelho de reconhecimento. Para os milhares de descendentes de famílias como Midlej, Hagge e Maron, a obra valida suas histórias e a importância de seus ancestrais para a região. O resgate memorial de Midlej materializa o que ele sempre buscou: “transformar vidas em palavras e, com isso, preservar parte fundamental da história da Bahia”. O impacto é o reforço da identidade, o orgulho da herança e o reconhecimento público da contribuição árabe na formação regional.
Do ponto de vista acadêmico, a obra se estabelece como um instrumento essencial para futuros estudos sobre Imigração Sírio-Libanesa na Bahia e identidade regional. O rigor técnico na coleta de dados, incluindo a utilização de registros de estrangeiros (o “modelo 19”), oferece uma base documental sólida. Pesquisadores interessados em genealogia, história local e na economia do cacau e do café agora possuem uma fonte primária de relatos e dados.
Economicamente, o livro atesta a importância do capital humano e do empreendedorismo migratório. Ao detalhar a trajetória de ascensão dessas famílias, Midlej oferece um estudo de caso sobre como a diversidade cultural impulsiona a prosperidade. Os possíveis desdobramentos futuros incluem a utilização do livro como inspiração para roteiros turísticos culturais ou para a criação de centros de memória dedicados à presença sírio-libanesa no Nordeste do Brasil.
A Imigração Sírio-Libanesa na Bahia possui paralelos e contrastes notáveis com outras experiências migratórias no Brasil e no mundo.
Comparação Histórica: Enquanto as grandes levas de imigrantes europeus (italianos, alemães, japoneses) no Sul e Sudeste do Brasil eram muitas vezes direcionadas para a agricultura em fazendas, a imigração sírio-libanesa se concentrou no comércio itinerante e fixo. Esta abordagem deu-lhes uma mobilidade e uma capilaridade econômica que os permitiram prosperar rapidamente em regiões de difícil acesso, como o interior baiano. Enquanto os agricultores dependiam da terra, os sírio-libaneses dependiam da circulação de mercadorias e do crédito.
Comparação Internacional: No contexto de imigração do Oriente Médio, a experiência brasileira — e baiana — se destaca pela rápida assimilação e aceitação cultural. Em contraste com nações que impuseram barreiras mais rígidas ou sofreram com maior xenofobia, o Brasil (em grande parte devido à sua própria diversidade e à ausência de grandes conflitos religiosos abertos) permitiu que as famílias sírio-libanesas não apenas mantivessem suas tradições, mas se integrassem plenamente à vida social e política local, alcançando posições de destaque.
Vantagens e Desvantagens: A principal vantagem da abordagem sírio-libanesa foi a criação de uma rede de suporte familiar e comercial forte, que se estendia por todo o interior. A principal desvantagem — e o cerne do desafio de pesquisa de Midlej — foi a diluição e o esquecimento gradual da memória e da língua de origem ao longo das gerações, um preço pago pela integração bem-sucedida. O livro de Midlej atua justamente como um contraponto a essa desvantagem, restaurando o elo perdido.
Perguntas Frequentes Sobre a Imigração Sírio-Libanesa na Bahia
Qual a diferença entre Sírios e Libaneses na Imigração para a Bahia?
Embora o termo sírio-libanês seja amplamente utilizado, no início do século XX, a Síria e o Líbano faziam parte do Império Otomano, levando muitos a serem registrados como “turcos”. Historicamente, os libaneses foram a maioria na diáspora para o Brasil, especialmente os cristãos maronitas, mas ambos os grupos compartilham um legado cultural e linguístico profundo. O livro de Wilson Midlej une ambas as narrativas, reconhecendo que a comunidade se formou como um bloco coeso no Sudeste Baiano.
O que é o documento “modelo 19” e por que ele foi importante na pesquisa de Midlej?
O “modelo 19” é um registro cartorial e um documento de controle de estrangeiros emitido pelas autoridades brasileiras na época da imigração. Ele se tornou crucial para Midlej porque, com a dificuldade de obter datas e fatos precisos dos descendentes mais velhos, este registro oficial ofereceu uma âncora documental para confirmar as datas de chegada, os locais de registro e os nomes dos imigrantes, permitindo que a pesquisa tivesse um rigor técnico e não dependesse apenas da memória oral.
Por que a comunidade sírio-libanesa se concentrou no comércio e não na agricultura na Bahia?
A tradição histórica dos árabes (especialmente libaneses e sírios) era fortemente voltada para o comércio, com uma rede global de Mascates (comerciantes itinerantes). Chegando à Bahia, eles identificaram a grande lacuna do mercado local: a falta de uma infraestrutura de distribuição de bens de consumo para as vastas zonas rurais produtoras de cacau. Eles trouxeram suas habilidades mercantis e o capital inicial para preencher esse espaço, optando por ser o elo entre a produção e o consumo, em vez de se tornarem produtores agrícolas diretos.
Onde Wilson Midlej encontrou a inspiração pessoal para escrever sobre este tema?
Wilson Midlej possui uma conexão sanguínea direta com a história que narra. Seu avô materno era libanês, originário da cidade de Kaituly, e sua avó era egípcia, natural de Alexandria. O autor afirma que as memórias mais íntimas de sua infância, envolvendo os “sabores, falares e encontros familiares” dessa herança, serviram como o impulso emocional e o “gatilho para a investigação” de sua obra.
O livro é relevante apenas para descendentes ou historiadores de Jequié?
Absolutamente não. Embora a pesquisa se concentre na microrregião do sudeste baiano (que inclui Jequié), o livro tem uma relevância muito mais ampla. Ele é um instrumento para estudos futuros sobre imigração e identidade regional em geral. Leitores interessados em genealogia, na história da economia do cacau e do café, ou mesmo em narrativas envolventes sobre superação humana em um novo continente, encontrarão dados e relatos que nutrem tanto a pesquisa quanto a imaginação.
Conclusão: Um Legado que Exige Ser Lido e Preservado
A Imigração Sírio-Libanesa na Bahia não é apenas um capítulo empoeirado da história regional; é o motor invisível que ajudou a construir a prosperidade e a diversidade do sudeste baiano. Wilson Midlej, com a autoridade de sua jornada profissional e o afeto de sua memória familiar, transformou uma pesquisa complexa em um tesouro literário e documental. A Saga dos Sírios e Libaneses cumpre o objetivo nobre de resgatar vidas que, de mascates a líderes empresariais, forjaram a identidade econômica e social da microrregião.
Esta obra, editada pelo professor Sérgio Mattos e fruto de um trabalho que exigiu garimpar relatos orais contra a barreira do tempo, não é o ponto final, mas sim o ponto de partida. Ela se coloca como um instrumento de resgate memorial e um convite para que as novas gerações, e todos os interessados em história e genealogia, compreendam a profundidade do legado sírio-libanês. O passado da Bahia está escrito em diversas línguas, e a voz de Wilson Midlej finalmente traduz uma delas de forma definitiva.
Se você tem interesse em história local, genealogia ou no impacto das grandes migrações, não pode ignorar esta obra. É a memória da Bahia que exige ser lida e preservada.
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